A fila de análise de benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) atingiu 2,862 milhões de processos pendentes, segundo dados publicados em novembro.
O aumento representa uma das maiores pressões recentes sobre o órgão, que vem registrando crescimento contínuo na demanda desde maio, cerca de 10% a mais em novos pedidos mensais.
A situação levou o governo federal a instituir um comitê interno de monitoramento e gestão da fila, com prazo de atuação até 30 de junho de 2026, conforme portaria publicada no Diário Oficial da União em 19 de novembro.
O grupo deverá acompanhar indicadores, propor ajustes operacionais e buscar soluções tecnológicas para acelerar a análise dos processos.
Bônus suspenso e processos parados agravam o cenário
Um dos fatores que contribuíram para a lentidão é a suspensão, em 15 de outubro, do Programa de Gestão do Desempenho (PGB), que previa o pagamento de bônus por produtividade aos servidores responsáveis pela análise de benefícios. Sem o incentivo, a capacidade de resposta diminuiu.
Além disso, aproximadamente 660 mil pedidos do Benefício de Prestação Continuada (BPC) estão parados aguardando recálculo da renda familiar, o que também impacta o estoque geral de processos.
Medidas previstas pelo comitê
O comitê criado pelo INSS deverá:
- monitorar cerca de 920 mil processos sob governança direta do órgão;
- identificar gargalos em cada etapa da análise;
- propor alterações normativas e operacionais;
- aprimorar o uso de automação e Inteligência Artificial na concessão de benefícios sem pendências documentais;
- ampliar o uso da análise remota em casos de auxílio-doença, reduzindo a dependência de perícia presencial.
Apesar das medidas anunciadas, especialistas apontam que mudanças estruturais só devem ter efeitos perceptíveis a médio prazo.
Impacto para segurados
A fila crescente afeta diretamente quem aguarda:
- concessão de aposentadorias, pensões e auxílios;
- revisões de benefícios;
- pagamento de atrasados, como RPVs e precatórios resultantes de processos previdenciários;
- análises que dependem de perícia presencial.
Como a liberação de valores retroativos depende da conclusão da análise do benefício, a demora no INSS pode prolongar significativamente o prazo até a expedição de ordens de pagamento pela Justiça.
Processos que resultam em RPVs (Requisições de Pequeno Valor) seguem calendário mensal. Já valores superiores ao limite da RPV, que se tornam precatórios, entram no orçamento do ano seguinte e podem enfrentar atrasos adicionais dependendo da disponibilidade financeira da União.
Perspectivas
Com o crescimento contínuo da demanda, a interrupção do programa de bônus e o alto volume de processos parados, a expectativa é de que a fila do INSS continue pressionada nos próximos meses.
O comitê terá a missão de propor soluções, mas o desafio envolve estrutura, orçamento e tecnologia, fatores que demandam tempo para surtir efeito.
Enquanto isso, segurados seguem sem previsão clara de quando seus pedidos serão analisados e de quando terão acesso aos valores aos quais têm direito.
Fonte: Jornal de Brasília



